O trecho evangélico proclamado na santa Missa deste domingo – Mc 6,1-6 – deu origem ao ditado popular de que “santo de casa não faz milagre”. Uma experiência vivida por Jesus em Nazaré, sua terra. Lá Ele não fez milagres. Por quê? Perdera Ele o seu poder? Ficara inibido? Nada disso! Os seus patrícios, na verdade, se escandalizaram de Jesus porque ainda não acreditavam na mensagem de Jesus, estavam fixados na sua incredulidade. Cheios de arrogância, ao invés de se orgulharem de um conterrâneo tão ilustre cinicamente se perguntavam: Esse homem não é o carpinteiro, filho de Maria? Seus familiares não moram aqui conosco? Como é que ele ensina com tanta sabedoria e faz esses milagres? Ora, diante desse desdém e desprezo, Jesus mesmo lhes disse: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. O Evangelho registra que Jesus “admirou-se com a falta de fé deles”. E ali só curou alguns doentes.
A rejeição de Jesus por seus conterrâneos de Nazaré é símbolo da rejeição que no passado sofrera, por exemplo, Ezequiel perpetrada por aquele povo de rebeldes que rejeitava e matava os profetas enviados por Deus, conforme ouvimos na 1ª leitura da santa Missa lida em Ezequiel 2,2-5. Mas o fim pelo qual Deus enviou Ezequiel a Israel foi para que “saibam que há um profeta no meio deles”.
Na segunda leitura, ouvimos São Paulo queixar-se de sua fraqueza e incapacidade em seu ministério apostólico, por causa das dificuldades que encontrava para executar a sua missão. Por três vezes ele pediu a Deus que o livrasse desse mal que o afligia como um anjo de satanás. Mas o Senhor lhe disse: “Bata-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta”. Então, São Paulo acreditou que a força de Cristo agia nele. Nós também precisamos aprender que somos fracos, pobres pecadores, mas que a partir de Cristo tudo podemos e sejamos capazes de proclamar como ele o fez: “Prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que permaneça em mim a força de Cristo”.
Quanto ao fazer ou não fazer milagres, não há como não se pôr em evidência esses dois aspectos que sobressaem do jeito de ser de Deus visível em Jesus. Jesus nunca fez milagres para agradar a plateia; os milagres foram sinais da chegada do Reino dos céus que Ele realizou, mas sempre com o pré-requisito da fé e do coração aberto para Deus que exigia das pessoas que dEle se aproximavam carentes e confiantes. E, não obstante essa condição, Jesus não titubeou em passar por cima desse pressuposto quando se tratou de curar aqueles doentes de Nazaré. Como sempre pregou, a caridade deve estar acima de tudo, e por isso, curou-os por amor, para livrá-los das suas dores e sofrimentos. Se o zelo de Deus o consumia a ponto de expulsar os vendilhões do templo por causa do sacrilégio com a casa de oração, Jesus não se recusou em entregar-se livremente à cruz, em outras palavras em suportar o sacrilégio com o seu corpo por causa do amor para com aqueles em favor dos quais, com gemidos, suplicou ao Pai: “Pai perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem”.
E nós, cristãos, somos capazes de fazer o bem mesmo quando desprezados e até em favor dos que nos desprezam? Ou até para que manifestemos que também nos dias de hoje há profetas entre nós? Ou, então, para que gloriemos de bom grado de nossas fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias que sofremos a fim de que a força de Cristo habite em nós?
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