O medo de perder alguma coisa, por exemplo, o amor de uma pessoa ou um privilégio ou um bem qualquer, é o que caracteriza o ciúme, segundo explica o Dicionário. Em outras palavras é o mesmo que inveja.
O assunto é tratado no Evangelho da santa Missa deste domingo, São Marcos 9,38-43.45.47-48, na sua primeira parte. São Marcos conta que os apóstolos ficaram nervosos por causa de uma ‘ciumeira’ que surgiu entre eles. São João em nome deles disse: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue. Jesus disse: Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”. Esta é a lição, mas em outra circunstância, segundo lemos em Mateus 12,30, Jesus disse também: “Quem não está comigo e contra mim”, isso em caso de conflito e perseguição, quando se trata de estar sob o poder do maligno. A tentação da inveja ronda também os fiéis no seio da Igreja. Esse fenômeno ocorre hoje de modo mais visível no âmbito dos carismas e dons do Espírito Santo. São João Paulo II chamou de primavera do Espírito Santo o surgimento espantoso das novas comunidades, movimentos e associações de vida, oração e missão na Igreja. Há uma grande variedade delas aprovadas pela Igreja, outras em processo de acompanhamento e discernimento. São aprovadas, por exemplo: RCC, Focolares, Caminho Neo-catecumenal, Canção Nova, Shalon… O Espírito Santo de Deus vem também renovando os movimentos tradicionais de leigos e a Vida Religiosa em geral. São ciumentas aquelas pessoas ligadas àqueles movimentos ou comunidades eclesiais que, em nome de uma chamada visão de Igreja ou de linha pastoral, pretendem ter o monopólio exclusivista dos carismas ou dons do Espírito, e por isso, selecionam os carismas que lhes interessam, e só dão lugar na comunidade àquelas realidades eclesiais que se amoldam a um único figurino. Com efeito, decidem: aqui não entram RCC, Neo-catecumenato, Shalon etc. Nossa opção pastoral é pelo engajamento social: direitos humanos, justiça social, ecologia… Sob a influência dessa mentalidade estreita muita gente acha que Deus está só na Igreja. Deus está sim na Igreja, mas sua presença e ação salvadora vão além dos limites da Igreja. O Espírito do Senhor enche o mundo e a ação de Deus também se faz presente nos outros povos. São João no prólogo do seu Evangelho afirma que “O Verbo é a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo”. Os caminhos de Deus não são os nossos (cf. Is 55,8). O Espírito de Deus sopra onde quer e como quer (cf. Jo 3,8). Há alguns que não querem nada de novo, bastam as estruturas tradicionais e clássicas. E outros que querem só o novo e moderno, nada dos velhos modelos e velhas instituições. Lembremo-nos que a Igreja é unidade na diversidade de carismas, serviços e funções, num só Senhor, numa só fé, num só corpo, num só Espírito. Nela não cabe divisão em partidos, espírito de classe, nem ciúme nem inveja. Jesus diz na segunda parte do Evangelho que “Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se a tua mão de escandaliza, corta-a… Se teu pé te leva a pecar, corta-o…. Se teu olho te leva a pecar arranca-o!” Cortar na própria carne é preciso quando se trata de vencer os pecados dos escândalos de poder, das concupiscências de possuir, dos instintos baixos praticados sobretudo contra os pequeninos de nosso mundo.
A primeira leitura da santa Missa, Números 11,25-29, ligando-se ao Evangelho, diz que já no Antigo Testamento a missão profética não estava restrita àqueles 70 homens que foram à tenda, mas desceu também sobre os dois que ficaram no acampamento. Josué interpelou Moisés, dizendo: “Meu Senhor, mande que eles se calem!” Não obstante a ciumeira de Josué, “Moisés respondeu: Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o Povo de Deus profetizasse e o Senhor infundisse a todos o seu espírito!” Na segunda leitura, Tiago 5,1-6, o espírito de profecia questiona os ricos que se esbaldam em divertimentos e vida luxuosa, por causa de uma riqueza muitas vezes acumulada sonegando os salários justos a seus empregados: “E, agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós… Vede, o salário dos trabalhadores está gritando, e o clamor deles chegou aos ouvidos do Senhor. Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança”.
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